Com tema “Ser mulher no Brasil”, evento reuniu virtualmente Heloísa Buarque de Hollanda e Taísa Machado na conversa sobre a luta das mulheres por equidade de gênero

A Codemar (Companhia de Desenvolvimento de Maricá) realizou, em parceria com a Fundação Darcy Ribeiro, o 5º webnário da série “Reconstruindo o Brasil a partir de Darcy Ribeiro”. A cada mês, o evento, que é transmitido ao vivo na internet, discute um aspecto sociocultural do país, sempre à luz dos estudos do antropólogo que escolheu Maricá como lar. Desta vez o tema foi “Ser mulher no Brasil” e contou com um bate-papo entre Heloísa Buarque de Hollanda, que é curadora da série, e a ativista Taísa Machado, fundadora do Afrofunk. O conteúdo pode ser assistido no canal da Prefeitura de Maricá no Youtube (@prefeiturademarica1).

A conversa foi um encontro de gerações em torno da mesma luta: mais equidade entre os gêneros, com a garantia de direitos a todas as mulheres, com todas as suas particularidades, como raça, identidade de gênero, credo, etc. Nos intervalos da roda de conversas, artistas mulheres participaram de batalhas de rap e slam feitas presencialmente na sede do movimento cultural Ruasia, no Centro de Maricá.

“Eu sou feminista desde que apareci no mundo. Ou, pelo menos, desde os 15 anos. E estou com 84. E a nossa luta era por muita coisa! Luta por direitos, das mulheres, de trabalhar, direito de vota. Na minha época mulher não votava, não viajava, não tinha conta em banco, não tinha divórcio. Era uma situação bem diferente da que nós temos hoje”, começou Heloísa, que seguiu: “Eu nunca vi uma presença do feminismo com esse fogo que tem hoje, de trabalhar com literatura feminina, com cinema feminino. O feminismo é uma presença hoje”.

Heloísa pediu que Taísa traçasse um perfil do feminismo da sua geração: “A gente tinha muitas lutas. E no universo da sua geração? O que que você sente como feminista hoje? Qual é a diferença que você sente da minha geração?”, indagou Heloísa.

“Eu aprendi no teatro. Foi lá que me entendi como uma cidadã, como indivíduo social. Também no funk, que a galera tem como um espaço extremamente machista, e que é mesmo, assim como várias outras linguagens e vertentes culturais. Tem muito machismo, muita objetificação do corpo da mulher, não é? Mas, ao mesmo tempo, as mulheres que estavam atuando dentro do funk vinham com ideias tão progressistas sobre o seu corpo, sobre a maneira de estar no mundo, que eu acabei desenvolvendo no meu trabalho, meio sem querer, pegando um pouquinho de cada coisa. No meio de tudo tem a internet, que nos conecta e nos dá voz. Essa conexão é diferente daquela da sua geração que necessitava estar num lugar físico, se reunir”, respondeu Taísa.

A ativista também apontou outras relações de características do corpo no feminismo contemporâneo e que não eram um tema tratado com a devida importância anteriormente: a questão racial.

“A gente continua querendo a mesma coisa: liberdade, ser tratada como cidadãs de primeira classe e não de subclasse. Mas, hoje, a gente ouve mais a voz também das mulheres indígenas, das mulheres negras. Não totalmente, porque a gente sabe que a luta continua, mas eu acho que a própria internet, a possibilidade de você falar com seus pares, vai deixando a gente ter mais essas informações”, disse Taísa.

Os webnários

A série de webnários “Reconstruindo o Brasil a partir de Darcy Ribeiro” é uma homenagem ao centenário do antropólogo. Todo mês, um novo assunto é tratado tendo em mente o trabalho do pensador.

“Darcy Ribeiro foi antropólogo, educador, senador, figura pública e política, que teve uma influência enorme na cultura e na educação do Brasil. As suas obras trabalharam temas como diversidade, indígenas, cultura, inclusão… Então, Darcy é uma figura que não pode ser esquecida”, avaliou Rita Rosa, professora e colaboradora da Diretoria de Economia Criativa e Sustentabilidade da Codemar.